Ricardo França
22.11.19
(Dedicado a moradora em situação de rua Zilda Henrique dos Santos Leandro, de 31 anos, morta a tiros em Niterói, no dia 16 de novembro de 2019, após mendigar dinheiro para matar a fome)
Matamos a fome de uma jovem moradora
de rua com um tiro em sua cabeça.
E morremos com ela. Dessa forma
aprendemos a matar a fome:
usando a mão e a arma de um psicopata,
já que aprendemos a produzir psicopatas.
Vivemos na sociedade dos psicopatas.
Estamos com os dedos ligados à essa tomada.
"Moço, tem um Real? Estou morrendo de fome"
Elegemos os senhores das chagas e da fome
e tudo está absolutamente tranquilo e favorável.
Vamos exterminar a fome exterminando aqueles
que têm fome. E taxar as famílias dos com fome
pelo consumo das balas dos enlouquecidos.
A ideologia do sepultamento,
esse apartamento de covas, esse vento
que entra pelas nossas janelas e portas
shopping center dos assassinados
madrasta da ex-Pátria Mãe Gentil
é o nosso novo Brasil
E nós? Não seremos mais brasileiros,
mas comparsas de uma grande milícia continental
na qual faz o bem quem pratica o mal.
E faremos orações, e arrotaremos como os bárbaros
Instituiremos a crueldade institucional.
"Moço, me dá um Real, estou morrendo de fome"
“Poc poc poc”
"Menina, morto não sente fome"
Foi no meio da Rua, em Niterói.
No asfalto, uma seta e uma bicicleta
apontavam para ela.
Uma história de uma sociedade real
Nela, bandido bom é bandido herói
Num tempo em que homem de bem
Passou a ser uma criatura do mal
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